O mercado de carbono é frequentemente citado como uma ferramenta importante na luta contra as mudanças climáticas.

No entanto, críticos apontam que ele trata apenas os sintomas, e não as causas subjacentes do desmatamento na Amazônia, como a expansão agrícola, a mineração ilegal e a pecuária extensiva.

Camila Del Nero, em um artigo publicado em 24 de junho de 2024, destaca essas preocupações.

Observando que a implementação do mercado de carbono pode não ser a solução abrangente que muitos esperam.

Funcionamento do Crédito de Carbono

O crédito de carbono é um mecanismo que representa a quantidade de CO2 removida da atmosfera ou evitada de ser emitida devido à preservação das florestas.

Esses créditos podem ser comprados e vendidos no mercado, permitindo que empresas e países compensem suas emissões de carbono.

Em teoria, atribuir um valor econômico ao carbono emitido incentiva a redução de emissões através de um sistema de “cap and trade” (limitação e comércio).

Críticas ao Mercado de Carbono

Márcia Maria de Oliveira, socióloga e professora da Universidade Federal de Roraima, critica o comércio de emissões como uma mitigação superficial dos danos ambientais.

Ela ressalta a hipocrisia de grandes empresas do agronegócio que se destacam no mercado de carbono. Enquanto seu modelo de produção contribui significativamente para as emissões de carbono.

Oliveira aponta que grandes fazendas são pagas para proteger pequenas áreas, enquanto continuam a desmatar grandes porções de território para monoculturas prejudiciais ao bioma.

Lindomar Padilha, indigenista e pesquisador, destaca que os mercados de carbono, especialmente os ligados ao mecanismo REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), frequentemente resultam na apropriação dos territórios de comunidades tradicionais.

Segundo ele, o Estado negocia diretamente com conglomerados empresariais, tratando terras indígenas como garantias para investimentos, o que enfraquece a soberania dessas comunidades.

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Impactos na Amazônia e Comunidades Tradicionais

O mecanismo REDD+ jurisdicional, embora inovador na teoria, pode desviar recursos financeiros para projetos de compensação de emissões em outras partes do mundo.

Deixando a Amazônia vulnerável ao desmatamento.

Márcia Oliveira enfatiza que o mercado de carbono, em vez de resolver os problemas estruturais, permite que empresas continuem desmatando.

Desde que compensem suas emissões com a compra de créditos. Isso cria uma dinâmica em que o lucro financeiro se sobrepõe à conservação ambiental.

Além disso, projetos de crédito de carbono podem levar ao deslocamento forçado de comunidades indígenas.

Essas comunidades, que protegem a floresta através de uma relação de cuidado e reciprocidade, frequentemente ficam à margem das grandes economias que lucram com a “economia verde“.

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Importância de um mercado mais transparente: Projeto Mejuruá

A falsa sensação do que é proporcionada pelo mercado de carbono pode impedir a implementação de soluções verdadeiras para a redução das emissões de carbono.

Enquanto projetos como o Mejuruá atuam protegendo áreas da floresta e capturando emissões reais, projetos mal intencionados comprometem o crescimento do mercado.

Os crédito de carbono podem fornecer soluções duráveis, se foram considerados a necessidade de implementar projetos que cuidem do desenvolvimento social, ambiental e econômico.

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Por Ana Carolina Ávila