Em maio, uma investigação aprofundada sobre dois projetos de créditos de carbono na Amazônia brasileira descobriu uma conexão potencial com a lavagem ilegal de madeira.

O Centro de Análise de Crimes Climáticos (CCCA), uma organização sem fins lucrativos dos Países Baixos, examinou as iniciativas no município de Lábrea, no estado do Amazonas.

A análise indica que os projetos liderados por Ricardo Stoppe Jr. podem estar envolvidos na extração e comercialização ilegal de madeira.

Acumulando milhões de dólares em vendas para empresas conhecidas como GOL Airlines, Nestlé, Toshiba, Spotify, Boeing e PwC, Ricardo Stoppe Jr. é reconhecido como o maior vendedor individual de créditos de carbono do Brasil.

A maior fornecedora de créditos de carbono do país, a Carbonext, ajudou a desenvolver esses projetos. Eles também receberam certificação da Verra, um dos principais registros voluntários de mercado de carbono do mundo.

Os projetos Unitor e Fortaleza Ituxi ocupam 140.862 hectares, o dobro de Londres.

O objetivo desses projetos é evitar a desflorestação em uma das regiões mais ameaçadas da Amazônia, emitindo anualmente 660.598 toneladas métricas de CO2.

Em sua análise, a CCCA descobriu que havia diferenças significativas no volume de madeira declarado pelas autoridades brasileiras e estimado com base em imagens de satélite.

Devido a essa discrepância, é possível que as áreas tenham sido usadas para branquear madeira ilegal.

O caso mais evidente foi o do projeto Fortaleza Ituxi, onde o volume de madeira encontrado foi maior do que o estimado pela análise de satélite.

Saiba mais: Top brands buy carbon credits from suspected scam operation in the Amazon

Extração ilegal de madeira na Amazônia

A extração legal de madeira no Brasil requer um Documento de Origem Florestal (DOF).

A fraude de lavagem de madeira é quando as pessoas compram créditos de madeira falsos de projetos de manejo florestal que ainda não foram bem explorados.

A madeira ilegalmente retirada de áreas protegidas, como terras indígenas e áreas de conservação, é então legalizada com a ajuda desses créditos.

A CCCA usou o NDFI (Índice de Fração de Diferença Normalizada) de imagens de satélite para avaliar as áreas exploradas.

Essa tecnologia ajuda a mostrar as marcas deixadas pelos madeireiros na floresta.

O FBI e outros órgãos que monitoram o meio ambiente usam a técnica. A CCCA multiplicou o volume médio de madeira por hectare registrado em cada autorização de plano de manejo florestal pela área explorada mostrada nas imagens de satélite.

Os volumes declarados ao IBAMA no sistema DOF foram comparados com o resultado.

A análise indicou que a quantidade de madeira declarada em alguns projetos era significativamente maior do que foi estimada, indicando que a madeira ilegal foi escondida com créditos falsos.

No projeto Fortaleza Ituxi, o volume declarado foi de 104.700 m3, mas o volume estimado pela análise foi de apenas 48.588 m3, quase o dobro do volume estimado.

O responsável pelos projetos, o Ituxi Group, afirmou que todas as suas iniciativas são auditadas e verificadas.

Contudo, os dados apresentados pela CCCA indicam o contrário.

Além disso, a organização examinou a Fazenda Três Barras, que fazia parte do projeto Unitor, e descobriu mais discrepâncias. O volume declarado da fazenda em um dos planos de manejo florestal foi de 25.371 m3; no entanto, a CCCA estimou que apenas 71% desse volume foi explorado.

A empresa responsável pelo desenvolvimento dos projetos, Carbonext, afirmou que as imagens de satélite não são suficientes para determinar o volume real de exploração madeireira.

Eles argumentaram que a única maneira de obter informações precisas seria uma inspeção local. A Verra, que certificou os projetos, disse que precisava de mais detalhes antes de fazer comentários.

O conceito de REDD+, ou Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal, é um programa com o objetivo de compensar as emissões de CO2 mantendo as florestas.

As empresas compram créditos de carbono para compensar sua pegada de carbono.

Por outro lado, a Carbonext afirmou que não está diretamente envolvida no manejo florestal das áreas em questão.

Saiba mais: NEWS CCCA

Sobre o Projeto de créditos de carbono

A investigação também encontrou irregularidades em vários aspectos do projeto.

Embora nenhuma madeira tenha sido declarada no sistema DOF, imagens de satélite indicam uma extração de 11.859 m3 de madeira na fazenda São Sebastião, que faz parte do projeto Unitor. Isso sugere que a área foi explorada sem a documentação adequada.

Essas descobertas levantam preocupações significativas sobre a legitimidade dos mercados de créditos de carbono na Amazônia.

A existência de irregularidades e evidências de fraude sugerem que alguns projetos podem estar deteriorando a floresta em vez de a preservar.

O perito forense da Polícia Federal no estado do Pará, Gustavo Geiser, confirmou que sua equipe usou a mesma metodologia do CCCA em investigações de extração ilegal de madeira. Isso corrobora os resultados.

Essas descobertas têm consequências significativas.

Impactos no mercado de créditos de carbono

Elas não apenas põem em dúvida a capacidade dos projetos de créditos de carbono de preservar a floresta amazônica, mas também enfatizam que o mercado de créditos de carbono precisa de uma fiscalização mais rigorosa e transparente.

Os investidores e consumidores nesses mercados dependem da garantia de que os créditos representam reduções de emissões de CO2 comprovadas.

Enquanto isso, as investigações estão em andamento e a pressão sobre as autoridades brasileiras é para que tomem medidas para combater as atividades fraudulentas.

Em um projeto de créditos de carbono legítimo, como o projeto Mejuruá da BR ARBO, liderado por Gaetano Buglisi, a preservação das florestas é a prioridade

O caso enfatiza a necessidade de mecanismos de monitoramento sólidos e independentes para garantir que os objetivos ambientais dos projetos REDD+ sejam alcançados e que a floresta amazônica seja protegida contra a exploração ilegal.

Por Ana Carolina Ávila